Transplante Cardíaco – A esperança de um coração e vida nova
O sonho de uma vida com mais qualidade e dias cada vez mais distantes do desconforto e riscos apresentados pela insuficiência cardíaca, doença que acomete cerca de 23 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), está cada vez mais próximo e menos complicado, inclusive, para aqueles que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). A boa notícia é a de que a Santa Casa de Misericórdia de Feira de Santana e o Incardio fecharam uma parceria través do
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS).
A parceria feita por meio do hospital Sírio Libanês visa uma capacitação da nossa equipe multiprofissional para transplante cardíaco, envolvendo cirurgião cardíaco, cardiologista clínico, hemodinamicista, intensivista, nutricionista, assistente social, psicólogo, enfermeiros, técnicos administrativos, entre outros especialistas. O objetivo é que estes profissionais da Santa Casa de Misericórdia e do Incardio, 15 no total, possam ser capacitados nesta questão de transplante cardíaco e trazer todo esse know-how para Feira de Santana. Assim, será possível realizar transplantes cardíacos na Santa Casa de Misericórdia, uma vez que esta foi credenciada, ou seja, autorizada para realização deste tipo de cirurgia. A nossa expectativa é que, já no segundo semestre deste ano, estejamos fazendo transplante cardíaco em Feira de Santana.
É importante salientar que o treinamento a que esta equipe multidisciplinar está sendo submetida prima pela prática, ou seja, são profissionais que estão sendo formados, treinados, capacitados exatamente no local em que o transplante está sendo realizado. É uma capacitação que une teoria, cada equipe com suas especificidades, mas que também colocam em prática este aprendizado. Como cirurgião, por exemplo, participamos das visitas, das aulas, do momento da captação do órgão, do próprio transplante, enfim, estamos envolvidos na prática do dia a dia da equipe transplantadora do Sírio Libanês e do Incor, em São Paulo, dois locais onde esta tutoria está acontecendo.
Nossa equipe de Feira de Santana está dividida em grupos e estes tem um tempo específico de treinamento. Para nós cirurgiões, será uma capacitação dividida em doze períodos ao logo do ano, ou seja, durante doze semanas, estaremos em treinamento em São Paulo. Assim também acontecerá com os cardiologistas clínicos. Então, uma semana por mês. O início do treinamento foi no final de outubro do ano passado, a gente vai a São Paulo, e lá permanecemos, mais especificamente nestas unidades, nos capacitando na prática, ou seja, não são simulações. Além de participar das cirurgias nesses dois hospitais, também dividimos com seus profissionais sua rotina durante todos os dias em que lá nos encontramos.
Enquanto cirurgião que está em contato diariamente com pessoas que sofrem com a insuficiência cardíaca e quem veem no transplante, muitas vezes, a única esperança de ter uma vida normal, considero esta parceria um caminho que poderá sim representar, mesmo com todas as dificuldades que sabemos que existem desde a fila de cadastro para transplantes até a sua execução, um caminho mais curto para que nossos pacientes vivam mais e melhor. Participar desta formação, então, a qual não é a primeira, aliás, lembro que há pouco tempo fiz uma capacitação fora do Brasil e outra aqui mesmo em Feira de Santana, é de uma importância sem tamanho, afinal, é uma verdadeira imersão totalmente focada apenas neste procedimento.
Enquanto profissional, essa prática está sendo muito especial e gratificante, pois, são novos aprendizados adquiridos em duas grandes instituições brasileiras, especialmente o Incor, maior centro transplantador do Brasil. É uma experiência que representará muito para mim enquanto pessoa e enquanto profissional. Lembro ainda que o Hospital Sírio Libanês é referência principalmente nas questões de dispositivos ventriculares, os quais podemos usar neste tipo de cirurgia. Estamos falando, então, de duas grandes instituições brasileiras que vão transformar, sem dúvida, a nossa equipe que já é referência aqui na Bahia também.
Portanto, para aqueles que sonham com um coração novo, acredito mesmo que este é um sonho que está mais próximo para os feirenses, os baianos. A cirurgia de transplante do coração é um serviço que praticamente não está existindo na Bahia, não está sendo realizado no Estado de forma efetiva. As grandes novidades que se tem em transplante cardíaco são as assistências ventriculares, dispositivos que em alguns casos mais raros substituir o transplante cardíaco e em outros casos, na maioria das vezes o fazem, servem como ponte para transplante, ou seja, eles mantêm o paciente vivo até que se possa conseguir um órgão para transplantar.
Novas tecnologias
A cirurgia robótica é uma outra realidade com a qual a gente se depara no Hospital Sírio Libanês e procedimento acessível hoje para cirurgia cardíaca, no entanto, para o transplante cardíaco o método ainda precisa ser o convencional. Outro exemplo de procedimento com o qual também estamos convivendo, observando e vivenciando na prática são as assistências ventriculares, que também precisam ser colocadas por meio de cirurgia por serem aparelhos de tecnologia bem avançada que são instaladas no corpo do paciente e que em breve estarão disponíveis para serem utilizados em nossa cidade também.
Esta tutoria, repito, do Proadi/Sus, ou seja, não podemos fechar os olhos para a importância e papel do SUS para a concretização desse convênio e treinamento, capitaneada pelo hospital Sírio Libanês, escolheu alguns centros de excelência no país para realizar essa capacitação. O primeiro centro a fazer isto no Brasil foi o nosso, somos o único no momento. Eles estão usando toda expertise para nos auxiliar para que o projeto do transplante cardíaco em Feira de Santana já nasça com qualificação. Este grupo de especialistas está nos acompanhando tanto nesta rotina inicial como também se fará presente aqui durante a realização do transplante e no pós-transplante, nos ajudando em todas as etapas para que o serviço possa funcionar adequadamente. Afinal, nossa expectativa é fazer um serviço sério, robusto e trazer uma qualificação não somente para Feira, mas também para todo o Estado da Bahia. Muito em breve vamos trazer mais este arsenal terapêutico para a cardiologia que é o transplante cardíaco.
André Guimarães
Cirurgião Cardiovascular
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